8 de novembro de 2010

Antropofagia e Libertação Estética


brazilianmodernism

A catarse do Modernismo brasileiro explana-se em duas etapas: Semana de Arte Moderna de 1922 e a Tropicália de 1967 a 1976. Movimentos de vanguarda feitos por jovens despertos para uma renovação da arte brasileira, que alcançaram a máxima expressão nas artes, na música, no teatro, no cinema e na contestação sócio-política, lançando as bases posteriores para a evolução e transformação do pensamento brasileiro. Arte nacional contrapondo a mera repetição das fórmulas européias. Uma forma de remover o mofo passadista do quadro intelectual vigente e a postura verborrágica de um rígido academicismo, que falava muito para dizer pouca coisa.
Os artistas abraçavam a produção da arte brasileira usando símbolos da nossa cultura. No Modernismo de 1922 percebemos a cultura popular brasileiro sendo produzida de maneira erudita junto à linha das novas vanguardas que surgiam na Europa, como o Dadaísmo e o Surrealismo, trazidos por Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. Uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulistana, nas palavras do próprio Di Cavalcanti, pintor modernista de 1922.
 Os tropicalistas criticavam a falta de oportunidade de conteúdo e saber nacional nos canais de mídia. O conteúdo popular ia de embate ao clássico e ao mesmo fundia-se ao conteúdo erudito para lançar a cultura brasileira nos meios de comunicação, mesclando novas vanguardas americanas como a Pop Art de Andy Warhol. O Concretismo brasileiro de 1950 ajudou a criar a poesia marginal e marcou o nascimento da geração mimeógrafo, que protestava e lançava poesia de mão em mão, seja nas ruas ou universidades. O surgimento do Cinema Novo caracterizou a presença do regionalismo e marcou as cenas de um país que começava a sofrer os primeiros processos bruscos de industrialização e urbanismo e importação de cultura estrangeira. O período tropicalista esteve intimamente ligado a contestação política, a repressão militar e ao questionamento do futuro do país. Consolidaram-se atos institucionais contra os artistas e militantes que pregava a censura, que na época era vizinha da tortura e tinha o mesmo cheiro da morte.
A antropofagia e a libertação estética são as principais características dos dois movimentos, que parecem se integrar como se fossem só um. A antropofagia admitia o remanejamento das idéias contemporâneas de maneira a ser deglutida e depois ruminada sobre as especificidades do contorno brasileiro. Uma deglutição com nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo, ver e produzir com olhos livres. “Nada é mais real do que uma linha, uma cor, uma superfície.” Assim citava Oswald de Andrade, e propunha a liberdade estética. O fim das fórmulas na arte. Atributo absorvido e remodelado junto ao Concretismo da Tropicália.
Essas duas etapas do modernismo brasileiro marcam a união entre o nacional e o internacional, o arcaico e o moderno, o popular e o erudito, a burguesia e a massa.


Um comentário:

  1. A capacidade de ser crítico e ao mesmo tempo criativo em texto põe você OUT. As palavras são contudentes e nos joga em novas concebções caledoscópicas. Silogismos original: Modernália de outros silogismos. Um antropogafico literalmente literal. Palavras boas de se ler e melhor de se comer. Não como sopa de letras infantis, mas como banquete...Bacantes. Ordem e Orgia...Neygu!!! Paney !!!

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